14 setembro 2008

Os outros...!


É um daqueles dias em que preciso de ensaiar o sorriso ao espelho. Estou tão zangado e triste!
Ele demora a vir. E quando vem... não me reconheço. Aquele, em frente a mim, tem um sorriso que não é meu.
Eu estou muito zangado, tão zangado!
Não conheço nenhuma outra maneira de estar no mundo, hoje.
Saio da frente do espelho.
Não resultou, desta vez.
O outro fica lá com o sorriso. Eu vou embora, zangado.

Então como estava tão zangado, resolvi que devia ir visitar aqueles que infelizmente estão a sofrer pois a vida fez-lhes uma partida, que atravessam o deserto mais abrasivo de todos, o que parece não ter fim, aquele em que as miragens chegam a tornar-se insuportáveis de tão inatingíveis...
Falo de pessoas com doenças tão graves e tão devastadoras como o cancro. Falo de coisas muito sérias e muito dolorosas. E foi porque estive com elas e com algumas cheguei a rezar para que Ele lhes dê forças para o caminho (para esta longa e penosa travessia) que fiquei com a última frase de uma oração que li e que me ficou a fazer eco:

"Nenhum coração é tão inteiro como um coração partido. "

Embora pareça só uma frase muito romântica e muito poética, tem uma profundidade e um alcance enormes. E múltiplos sentidos. A oração aplica-se a esta e a muitas outras realidades. Agradeço de coração inteiro esta pequena-grande oração também para o meu caminho, e aos doentes que visitei que conseguiram que eu sentisse que a minha zanga não é nada ao pé de tanta coragem para ultrapassar tanto sofrimento.

Desejo arduamente que outras pessoas que eu conheço possam começar a sorrir novamente, pois como dizia o P. Pedro Arrupe " O mundo anda sem nós, de nós depende que ande connosco"

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