01 outubro 2008

Obras de Arte...!


Quanto mais o tempo passa não consigo deixar de me maravilhar com a beleza de uma obra de arte. Assim como não posso deixar de associar a essa beleza ao tempo. Tempo gasto, tempo dispendido, tempo para trabalhar em algo até tomar forma, tempo para perceber que sentido dar às coisas.
As relações humanas parecem-se muito com obras de arte: belas, irreverentes e imprevisíveis, desenrolam-se nos meandros de cada personalidade envolvida e são espelho de expectativas, desejos e formas de vida de quem as empreende. E levam tempo a ser construídas.
Curioso como ninguém questiona o tempo que é necessário para se criar uma obra de arte. Tal como ninguém questiona a sua imprevisibilidade. Mais curioso ainda: quanto mais original, destemida e arrojada é uma obra de arte, quanto menos estiver sujeita a convenções e trouxer novidade, mais atenção e apreço capta por parte dos seus apreciadores.

Porque não é também assim com as relações? Porque é que tem de ser sempre tudo inscrito nos mesmos códigos, nas mesmas condutas? Porque é que se espera que todo o sentido de uma relação surja num primeiro olhar, numa primeira conversa? Porque é que se insiste em afirmar que todo o rumo de uma relação se vê numa primeira impressão? E porque é que se baseia tudo em actos irreflectidos e precipitados?
Não há quem olhe para uma obra de arte e não se maravilhe com a minúcia de cada pormenor, a perfeição de cada traço. Não há quem não saboreie cada sentimento, cada ideia, cada pedaço de alma que é espelhado em cada gesto. E não acredito que haja quem pense que aquele pedaço de genialidade foi feito numa semana ou num mês.
Saber esperar é, mais do que uma virtude, um sinal de sabedoria. Saber esperar, mais do que ficar na expectativa dos meus desejos, é trabalhar com atenção e amor, dando espaço à criação para tomar o seu próprio rumo.

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