Tinha-me levantado cedo e tardava em preparar-me para existir.Era a ocasião de estar alegre. Mas pesava-me qualquer coisa, uma ânsia desconhecida, um desejo sem definição, nem até reles. Tardava-me, talvez, a sensação de estar vivo. E quanto me debrucei da janela altíssima, sobre a rua para onde olhei sem vê-la, senti-me de repente um daqueles trapos húmidos de limpar coisas sujas, que se levam para a janela para secar, mas se esquecem, enrodilhados, no parapeito que mancham lentamentamente.
(Bernardo Soares)
2 comentários:
Que misto de emoções borbulham neste lindo texto! É tão triste e tão próximo da realidade que chega a ser arrepiante ler com profundidade!
Entendo perfeitamente a sensação. De que falta qualquer coisa, alguèm que nos vai ligar, embora não consigamos lembrar do nome. Poré, a impressão de ser um apano velho que serviu a sua funçaõ e, nem velho serve para os vidros, afasta-me da minha percepção. Antes pelo contrário, sinto-me uma pessoa bonita, esquecida / escondida muitas vezes das coisas e das pessoas. BB
Enviar um comentário