07 fevereiro 2009



Fazer qualquer coisa completa, inteira, seja boa ou seja má - e, se nunca é inteiramente boa, muitas vezes não é inteiramente má - , sim, fazer uma coisa completa causa-me, talvez, mais inveja do que outro qualquer sentimento.
É como um filho: é imperfeita como todo o ente humano, mas é nossa como os filhos são.
E eu, cujo espírito de crítica própria me não permite senão que veja os defeitos, as falhas, eu, que não ouso escrever mais que trechos, bocados, excertos do inexistente, eu mesmo, no pouco que escrevo, sou imperfeito também.
Mais valeram pois, ou a obra completa, ainda que má, que em todo o caso é obra; ou a ausência de palavras, o silêncio inteiro da alma que se reconhece incapa de agir.
(Bernardo Soares)

1 comentário:

Anónimo disse...

São excertos como este que me levam a gostar do Livro do Desassossego do Bernardo Soares ( o mesmo é quase dizer da poesia de Fernando Pessoa). O Livro, como outro um bom livro que se preze, deixa-nos em desassossego permanente, porque nos confrontamos com a verdade tão crua e nua que dói. De facto, entre a obra imperfeita e a intenção da obra ( que é quase sempre perfeita, a intenção claro!)a escolha é tão evidente como ter consciência que se vive ou em que apenas se "dura".BB