O Natal tem destas coisas, recebi, entre outros, um livro precioso. Uma obra que estabelece bem a diferença entre os monges e nós: eles preferem a solidão e o silêncio. Nós escolhemos a solidão e o ruído. O Segredo da Cartuxa retrata a Cartuxa de Santa Maria Scala Coeli, único convento em Portugal da Ordem Cartusiana, fundada por São Bruno há mais de 900 anos. O livro retrata a vida do único mosteiro contemplativo masculino no país, no qual cada monge vive e trabalha sozinho na sua cela quase todo o tempo.
Mas há uma diferença entre nós e os doze homens que habitam o convento: por muita fé que se tenha, é preciso uma dedicação total para se deixar o mundo «lá fora» e aceitar que se está num convento para toda a vida. A vida de um monge cartuxo é austera, pratica-se a solidão, a Cartuxa edifica pelo silêncio. Apesar de poder parecer uma boa maneira de fugir do mundo e da vida, é um modo de existência que não se recomenda a todas as pessoas. A introversão muito forte acaba por ser inimiga da solidão. Para ser monge é necessário um equilíbrio psicológico muito forte, para conseguir suportar a austeridade e o silêncio. Quando questionados sobre as saudades do que deixaram para trás, respondem que o coração reclama dos seus ao princípio, mas contrapõem que as saudades passam e a recompensa é a permanente alegria espiritual em que vivem. Oração, trabalho e descanso são os três eixos fundamentais.
Também neste época natalicia, há pessoas que quiseram ter uma experiência de recolhimento e silêncio para que possam "ordenar a sua alma" e com isso ver que direcção deve tomar a sua vida.
Eu, na cidade, no meio de tanto "barulho" estou com elas em espírito e torcendo para que esta experiência seja marcante nas suas vidas.
2 comentários:
Na realidade sinto que, por vezes, acrescento "paz" à vida dos outros, o que na minha óptica corresponde ao silêncio e nessa entrega encontro menos "barulho" na minha solidão. Outras vezes há que sinto o contrário...mas fica a intenção e o desejo de dar paz e nunca tirar a que exista ou acrescentar "barulho" à vida do outro, mesmo que a nossa solidão se mantenha. E
Concordo inteiramente consigo. O livro é sem dúvida fascinante. Tal como o é o filme "O grande silêncio" (Die Grosse Stille). Aconselho vivamente!
É um documentário, bastante premiado e visto, sobre os monges da Grande Cartuxa. Eles passam a maior parte do tempo em silêncio, apenas quebrado pelos seus cantos esporádicos e uma ou outra conversa durante alguns passeios ao ar livre e em determinadas solenidades.
A princípio, custa um pouco a entrar naquele mundo. Depois embrenhamo-nos nele. Dei comigo a rir de uma piada que um dos monges conta, a certa altura, em que se discute o ritual (obsessivo?) de lavar as mãos. "o problema não é eu ter de lavar as mãos; o problema é que eu me esqueço sempre de sujá-las antes".
O que se trata ali é de fazer silêncio, de calar toda a fala vazia da linguagem mundana, para que fale, por meio desse silêncio, a plenitude do próprio Deus.
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