21 dezembro 2007

O Natal

















Poema de Natal

Para isso fomos feitos:Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos — Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dado

Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:Uma tarde sempre a esquecer

Uma estrela a se apagar na treva

Um caminho entre dois túmulos —Por isso precisamos velar

Falar baixo, pisar leve, ver

A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez de amor

Uma prece por quem se vai —Mas que essa hora não esqueça

E por ela os nossos corações

Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:Para a esperança no milagre

Para a participação da poesia

Para ver a face da morte —De repente nunca mais esperaremos...

Hoje a noite é jovem; da morte, apenas

Nascemos, imensamente.
(Vinicius de Moraes)